O lan?amento do filme “Doutor Sono” nos faz lembrar do gênio visionário Stanley Kubrick. Seu poderoso impacto nas artes, tecnologia e até mesmo na própria humanidade permanece até os dias de hoje.
Talvez sua contribui??o mais profunda tenha sido a obra-prima 2001: Uma Odisséia no Espa?o, produzida em 1968. Esta obra de fic??o científica, parcialmente baseada no conto de Arthur C. Clarke, “The Sentinel”, explora a evolu??o humana, o existencialismo e, notadamente, a .
? um belo filme com um realismo científico agu?ado, efeitos especiais muito à frente de seu tempo e uma constru??o narrativa com o menor diálogo possível. Por exemplo, satélites e dan?arinos se misturam com as linhagens do ‘O Danúbio Azul’. Isto é pura poesia visual sobre a rela??o entre o homem e a tecnologia.
Em muitos aspectos, esta obra de arte inspirou a tecnologia de hoje, que agora está inspirando a “arte” de hoje.
Um dos personagens principais do filme é HAL 9000, uma simples l?mpada vermelha com inteligência artificial (IA). T?o, ou mais inteligente, que os próprios tripulantes da nave. Kubrick acreditava que computadores altamente inteligentes podiam aprender pela experiência e iriam, inevitavelmente, desenvolver emo??es como medo, amor, ódio e inveja. Essas máquinas, disse ele, eventualmente manifestariam desordens mentais humanas.
HAL significa “Heuristic ALgoritmic”. Na linguagem da Ciência da Computa??o, “algoritmos heurísticos” s?o técnicas de IA aplicadas a problemas de alta complexidade teórica que n?o podem ser resolvidos com técnicas de programa??o convencionais, particularmente aquelas de natureza puramente numérica. Ou seja, tudo o que implica uma compreens?o mais complexa, analítica, emocional e sentimental está envolvido em um algoritmo heurístico. HAL era fic??o científica.
Voltando para a vida real, depois de 40 anos, as solu??es de IA est?o literalmente nas nossas m?os. Animojis da Apple, Siri, Alexa, Google, etc., HAL 9000 foi a inspira??o deles, o av? de todas essas belezas lá fora.
Se um sistema pode aprender com toques emocionais e refinamentos como Kubrick previu, nos vem a pergunta se teremos um momento em que o poder maligno dessas aplica??es de IA se instalará de vez. ? só dar uma olhada nas deepfakes para imaginar o que está por vir. Deepfake é a aplica??o da tecnologia com a IA para criar vídeos extremamente realistas, porém falsos. Vídeos onde personalidades podem aparecer fazendo um discurso inverso ao seu ponto de vista político ou até mesmo sendo colocado em situa??es constrangedoras. N?o é edi??o básica. ? um vídeo quase real criado com IA que captura as express?es faciais, sentimentos e emo??es da pessoa.
Na era da informa??o, as notícias falsas e deepfakes podem ter um impacto destrutivo sobre a imagem de indivíduos ou corpora??es. O ex-presidente americano Barack Obama foi uma das vítimas. Em um vídeo feito a partir da tecnologia deepfake, ele chama Donald Trump de “um idiota total e completo”. O vídeo parece muito real, mas foi produzido o com aprendizado profundo (deep learning) da IA por Jordan Peel, como um vídeo experimental, que causa impacto em todo o mundo.
Como criativo, isso tudo me faz parar para pensar sobre o que veremos nos próximos 40 anos. Só posso esperar que, com todos os avan?os rápidos e contínuos, teremos também alguma coisa da “alma” do HAL 9000. Numa das cenas mais antológicas do HAL 2001, numa crise de consciência (e num momento de autopreserva??o), rebela-se contra Dave e diz que n?o vai abrir as portas do hangar do navio: “Lamento, Dave, mas receio n?o poder fazer isso.”
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