Tiago Vargas

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O poder da sabedoria corporativa

Mais do que métodos e modismos, a capacidade de compreender e extrair de uma organiza??o o melhor do contexto interno e externo é o que leva à alta performance

Enquanto eu escrevia esse texto, a Nasa e a SpaceX concluíam com sucesso a miss?o de trazer de volta à Terra dois astronautas que ficaram “presos” em órbita por quase nove meses — a previs?o original era de apenas dez dias. O motivo da estadia prolongada foi o mau funcionamento da espa?onave da Boeing (concorrente da SpaceX), que, por motivos de seguran?a, n?o p?de retornar à Terra com os tripulantes.

Se é difícil dimensionar a magnitude desse desafio — tanto pela ótica dos profissionais retidos no espa?o quanto dos responsáveis por resgatá-los —, penso nas metodologias de trabalho t?o distintas que regem esses dois ícones da corrida espacial e suas implica??es no alcance da alta performance.

Efetividade ou inova??o? Depende do contexto

A Boeing adota uma metodologia que prima pela efetividade, seguran?a e previsibilidade. A espa?onave Starliner teve todo o seu desenvolvimento planejado previamente, com o resultado definido desde o início (uma abordagem próxima ao modelo PMBOK). Já a SpaceX opera com uma metodologia mais aberta e ousada, inspirada na lógica ?gil — n?o há um projeto completo definido, mas sim etapas que s?o realizadas, testadas e servem de aprendizado para as fases seguintes. Criatividade, flexibilidade e inova??o s?o os principais ganhos.

Duas organiza??es bem-sucedidas, duas trajetórias vitoriosas. Qual delas tem o melhor método? Depende. A tenta??o de responder com base apenas em manuais ou modismos deve ser evitada. A sedu??o de palavras como “efetividade” (Boeing) e “inova??o” (SpaceX) pode mais atrapalhar do que ajudar.

Alta performance nasce do entendimento do ambiente

O dia a dia dos negócios mostra que o principal fator de impacto na performance é o contexto interno e externo da organiza??o. Vejamos: uma companhia em crise, inserida em um cenário econ?mico estável, deve priorizar a inventividade ou a seguran?a? E uma empresa próspera em um setor que vive disrup??es? Pode repetir sua fórmula ou precisa se arriscar?

S?o perguntas complexas, com respostas que parecem óbvias — mas n?o s?o. Há muitas variáveis em jogo.

A sabedoria corporativa é mais valiosa que qualquer método

No universo das agências de comunica??o, existe ainda uma camada a mais. O valor da inova??o, por exemplo, é diferente para um cliente que vende produtos e outro que oferece servi?os. No primeiro caso, estar na vanguarda pode ser uma quest?o de sobrevivência na transforma??o digital. No segundo, a estabilidade garante entregas bem-feitas mesmo em cenários adversos.

Resumindo: uma agência precisa comportar tantas abordagens quanto os perfis de seus clientes. A metodologia deve servir à empresa — e n?o o contrário.

Sabedoria é contexto, experiência e adapta??o

Por isso considero a sabedoria corporativa um ativo t?o valioso. Ela vai além de teorias, fórmulas e conceitos. Pode vir dos times, das lideran?as, do conselho — ou de todos juntos — e possibilita a compreens?o e o manejo da realidade interna e externa. Esse saber organizacional é fruto de uma constru??o longa, única e intransferível. O que serve para umas empresas, n?o faz sentido para outras.

Onde a sabedoria floresce

O que serve para todas as organiza??es, no entanto, é cultivar um ambiente favorável à sabedoria corporativa. Ela cresce em empresas com modelos operacionais bem definidos, processos de gest?o eficazes (sem excesso de burocracia), objetivos claros e compartilhados, e boa capacidade de adapta??o.

A soma dessas qualidades, mais do que qualquer metodologia, é o que guia as empresas para decis?es sábias e para a alta performance.Artigo publicado na Exame: