Wendy Clark promete trazer paix?o para seu novo cargo na Dentsu
Wendy Clark, a nova CEO global da Dentsu Aegis Network, tem muita experiência criativa e com clientes, acumuladas na Coca-Cola e na DDB respectivamente. Mas o que ela trará para a gigante japonesa de mídia além do seu amor pela cor vermelha?
Wendy Clark gosta da cor vermelha, porque, pra ela, o vermelho mostra "paix?o". Usou sapatos vermelhos nas fotos que ela mesma organizou para o anúncio de sua nomea??o como CEO global da Dentsu Aegis Network.
Vermelho é a cor da assinatura da Coca-Cola, empresa onde ela trabalhou no Marketing até 2016. Em seguida, passou a trabalhar na DDB, rede criativa da Omnicom, sendo promovida várias vezes até se tornar a CEO global.
Em suas conversas com a Dentsu sobre a nova posi??o, ela ficou encantada com a história de Hishiro Mitsunaga, um correspondente de guerra que fundou a empresa japonesa de mídia em 1901 que tinha um cart?o de visita vermelho com uma mensagem na parte de trás que dizia: "Sacrifício pela Notícia e Propaganda".
Mitsunaga fundou a empresa de publicidade porque percebeu que ela poderia financiar as reportagens de sua empresa. Escolheu a cor vermelha para o cart?o de visita porque "a cor representava nossa paix?o", de acordo com a história da Dentsu em seu site citada por Wendy.
"Há 120 anos, esse homem entendia um modelo de negócios apoiado por anúncios, estava disposto a se sacrificar e era apaixonado pelo negócio", contou no dia em que a Campaign deu o furo de sua nomea??o em abril." Entrar neste negócio é uma grande responsabilidade. Reconhe?o a história da empresa, a heran?a e o legado, e tenho a mesma paix?o 120 anos depois".
Com um discurso como esse, é fácil perceber como a Wendy conquistou os japoneses. “Ela era a ‘escolha óbvia’ por causa de sua dupla experiência - enquanto cliente e líder de uma rede de agências criativas”, contou Tim Andree, chairman da Dentsu Aegis Network de longa data, responsável pela contrata??o dela.
Recrutar Wendy Clark foi uma grande tacada para a DAN, principalmente porque a DDB é uma das agências de cria??o mais famosas dos EUA, com uma história que remonta ao auge da Madison Avenue; além disso, ela já era uma das líderes mais visíveis e melhor conectadas da publicidade mundial.
"Ela é muito envolvente e inspiradora, pois estabelece um alto padr?o e uma grande ambi??o", afirmou Simon Francis, CEO da Flock Associates, uma em consultoria de marketing que assessora anunciantes globais. Na opini?o de Simon, "Ela é uma l?mpada em uma sala. As pessoas olham para ela e procuram por ela em busca de luz. Wendy define uma dire??o e expectativa claras. Tem aquela star quality que pode conduzir as pessoas em uma certa dire??o".
Simon Francis viu a maneira como a Wendy trabalhava quando a Flock estava assessorando o McDonald's em sua revis?o de contas nos Estados Unidos em 2016. Ela liderou uma equipe da Omnicom na conquista da conta com uma oferta integrada, que incluía a cria??o de uma agência sob medida em Chicago - um movimento ousado que durou até 2019, quando o cliente decidiu mudar de estratégia.
"Ela faz a transforma??o acontecer", falou Simon. "Ela é uma for?a de mudan?a em um setor que precisa disso. Ela só precisa trazer as pessoas junto com ela. Em sua busca por mudan?a e transforma??o, às vezes, ela pode n?o trazer todos nesse ritmo."
Caixa de entrada assustadora
Wendy Clark vai come?ar a trabalhar em setembro, preenchendo um espa?o deixado por Jerry Buhlmann, o inglês exigente que nem sempre concordava com Tim Andree. Depois de nove anos como CEO global, Jerry deixou a empresa em 2018. Ela enfrentará uma caixa de entrada assustadora, lotada de desafios quando assumir todas as opera??es da Dentsu fora do Jap?o e uma lista de clientes que inclui: Disney, General Motors, Procter & Gamble e Microsoft.
A DAN já estava sob press?o mesmo antes da chegada do coronavírus, pois suas receitas anuais haviam caído 1,9% no ano passado e alguns dos aliados de Buhlmann haviam deixado a empresa. O grupo fez 177 aquisi??es em seis anos e precisa de simplifica??o. Uma reestrutura??o em dezembro pareceu apenas como uma solu??o temporária, quando o Tim Andree reduziu a estrutura em sete mercados com baixo desempenho: Alemanha, Austrália, Brasil, Cingapura, China, Fran?a, e Reino Unido.
A Dentsu Aegis Network tem 42.000 funcionários, mas esse número pode cair ainda mais até setembro devido à brutal desacelera??o da economia mundial. Em uma jogada surpreendente, a Dentsu adiou seus resultados trimestrais, que eram esperados em meados de maio, e p?s a culpa do "atrasos" contábeis no coronavírus.
Wendy, que se descreve como americana mas também possui um passaporte inglês gra?as ao pai, também terá que navegar pela cultura corporativa japonesa em seu novo papel.
Ela ressalta que foi cliente da Dentsu quando trabalhou na Coca-Cola e, quando fala sobre suas conversas com Toshi Yamamoto, presidente e CEO da Dentsu, durante o seu processo de recrutamento, ela se refere a ele como Toshi-san – a forma de tratamento em japonês.
O histórico de Wendy Clark como líder de uma rede criativa é o que a torna uma op??o intrigante para assumir a Dentsu Aegis Network, cuja sede fica em Londres - um legado da aquisi??o de 3,2 bilh?es de libras do grupo brit?nico Aegis Group em 2012.
O grupo é mais conhecido por suas agências de mídia, CRM e dados, que incluem: Carat, iProspect, Merkle e Vizeum, e possui relativamente poucos ativos criativos, primordialmente a McGarrybowen .
Ela diz que a DAN já está bem posicionada devido à "variedade" das suas capacidades. “Fazer 177 aquisi??es em seis anos é impressionante e o grupo já fez grande parte do trabalho para integrá-las”, afirmou.
No ano passado, Tim Andree contou à Campaign que refor?ar a capacidade criativa do grupo é uma prioridade, porque "ele opera no nível de diretores de marketing dos boards e, a partir da Cria??o, é muito mais provável conseguir vender outros servi?os do que a partir das áreas de dados ou mídia."
Fazer novas Fus?es & Aquisi??es parece ser a rota provável para impulsionar a expans?o criativa. Wendy disse que "já tem várias ideias a respeito de Cria??o", mas ainda n?o assumiu o seu novo cargo e quer se inteirar dos negócios primeiro.
(Depois da conversa entre a Campaign e Wendy Clark, a , que se chama Dentsumcgarrybowen e reúne suas agências de publicidade fora do Jap?o.)
Pensando como a 'Connie Client'
Para a Dentsu Aegis Network voltar a crescer, a chave é integrar todas as suas capacidades de uma forma mais próxima, n?o apenas para aumentar suas credenciais criativas, de acordo com a Wendy que se refere constantemente à sua experiência como cliente na Coca-Cola e na AT&T .
Wendy comentou: ”As marcas repetem para a ela o tempo todo - "e eu já vivenciei isso" como profissional de marketing - que elas querem solu??es "integradas". "Os dias de pensamento em silos ou pensamento corporativo [por agências] simplesmente n?o est?o onde o mercado está. Certamente n?o é o modo pelo qual o consumidor recebe todo o nosso trabalho e nossas mensagens".
Ela promete "arrega?ar as mangas" e "entrar" nos negócios dos clientes da Dentsu Aegis Network - "realmente se aprofundando no entendimento dos desafios e necessidades específicos de cada cliente para, em seguida, apresentar os recursos, as ideias e as solu??es para seus negócios de uma maneira realmente integrada e convincente. ? assim que você desbloqueia o crescimento" afirmou Wendy Clark.
Colocar os clientes em primeiro lugar pode parecer óbvio, contudo, os rivais (particularmente a WPP), já admitiram nos últimos anos que precisam ser mais centrados no cliente. Além disso, algumas fontes do setor dizem que o Tim Andree tem fama de n?o se envolver muito pro-ativamente em concorrências e em novos negócios. "Obviamente, me sinto confortável ao lado do cliente porque passei muitos anos ali", diz Clark, embora ela também acredite que seu tempo liderando a DDB aprimorou seu entendimento sobre o relacionamento agência-cliente e a "mágica" que o faz dar certo.
"Muitas vezes em reuni?es, eu me chamo de 'Connie Client' ", diz ela, explicando o quanto ajuda se lembrar de quando era cliente. "Eu posso olhar para algo que estamos construindo ou apresentando ou até mesmo a linguagem que estamos usando e dizer: 'N?o, isso n?o vai dar certo e esse é o porquê' ou 'Essa n?o é a solu??o certa, porque nós n?o pensamos sobre isso.’ Eu me considero bilíngue porque ainda me sinto bastante fluente na língua dos clientes. "
A necessidade de mudan?as
As consequências da pandemia do coronavírus representam o desafio mais imediato que a Wendy Clark vai enfrentar. "Um dia é equivalente a uma semana e uma semana é equivalente a um mês em termos do tipo de mudan?a pela qual estamos passando", diz.
Os vencedores ser?o "os players ágeis" que est?o "profundamente imersos no mercado", que "entendem os dados e o que os consumidores est?o pensando" e que podem "se mover com velocidade e fluidez", segundo ela.
Wendy continua otimista em rela??o às agências, apesar das consultorias que est?o entrando no setor, das agências in-house criadas pelos clientes e da maior transparência na compra de mídia.
"? claro que já n?o é o que era", afirma Wendy sobre o setor global de agências, "porque o mundo e o mundo dos negócios que atendemos n?o é mais o mesmo. Aqueles que se apegam às velhas formas de trabalhar sentir?o, especialmente agora, de forma bem aguda [devido a crise econ?mica causada pelo coronavírus]. ? por isso que a integra??o das capacidades, a agilidade do negócio, o papel central dos dados, a capacidade tecnológica – a jun??o disso tudo dá a esta empresa uma grande vantagem neste momento .
"A única coisa que eu sempre dizia como cliente era: n?o há um ambiente em que eu n?o previsse a necessidade de parceiros para me ajudar a gerar ideias e solu??es que impulsionassem meu negócio. Nunca haveria um momento em que eu tivesse tudo – em que eu seria arrogante a ponto de pensar que tinha tudo - dentro da minha empresa. Você sempre precisará desses parceiros".
Por fim, ela diz, a chave é a confian?a: "Queremos ser um parceiro de confian?a, que entenda e conhe?a o negócio, que crie solu??es baseadas em uma incrível conhecimento sobre o cliente e depois com um storytelling espetacular. E, se fizermos tudo certo, sempre haverá um lugar para nós à mesa".
Lideran?a moderna
Wendy talvez seja a mulher mais sênior do mercado de agências globais em seu novo cargo. Ao se descrever, ela diz: "Antes de tudo, sou uma m?e de três adolescentes".
Ela mora em Atlanta, onde trabalhava para a Coca-Cola, e planeja continuar a viajar constantemente para Nova York em seu novo cargo. "Eu gosto de dizer que o meu escritório está a 30.000 pés de altitude porque eu pego um avi?o todas as semanas do ano", diz ela, mesmo que o coronavírus tenha mudado isso por enquanto. "Eu n?o aquela pessoa que se fecha em sua sala e lê relatórios. Eu gosto de sentir, de estar com as pessoas, com os nossos clientes, entender os negócios deles".
Wendy cresceu na Inglaterra até os 12 anos de idade, quando se mudou para os Estados Unidos. Ela come?ou sua carreira como recepcionista em uma agência de publicidade. "Eu queria me testar", diz. Ela gosta de contar essa história porque “foi lá que aprendeu que nunca seria superior a nada nem a ninguém.”
Ela diz que é uma líder "muito acessível e muito transparente”. “Quem pede um tempo comigo, consegue. Acho que esse é o caminho da lideran?a moderna hoje em dia - ser uma pessoa. Se você me encontrar numa loja no fim de semana, sou exatamente a mesma pessoa que você vê em uma reuni?o na quarta-feira."
Clark descreve seu tempo no comando do DDB como "um privilégio incrível". Ela destaca: "Eu n?o teria essa oportunidade [na Dentsu Aegis Network] se n?o fossem os últimos quatro anos".
Lá, ela teve uma boa experiência, sendo promovida de CEO dos Estados Unidos para presidente e CEO global em apenas dois anos. A rede se beneficiou em parte do forte desempenho contínuo da Adam & Eve/DDB em Londres.
A DDB foi a segunda rede criativa mais premiada em Cannes no ano passado. No entanto, a agência americana sofreu algumas perdas relevantes recentemente, incluindo o McDonald's e a State Farm.
A DDB come?ou o ano de 2020 "em uma situa??o difícil", disse John Wren, CEO da Omnicom no final de abril. Acrescentou: "Ficamos um pouco chocados e desanimados quando a Wendy Clark decidiu que iria nos deixar no meio de uma crise [da saúde global] ". Ou, como Francis diz: "Alguns questionaram sua capacidade de transformar uma vis?o em realidade concreta junto ao cliente e enquanto rede".
A reformula??o da Dentsu Aegis Network será um teste para Wendy, cuja liberdade de a??o dependerá da Dentsu, que afirmou que deseja aproximar suas opera??es japonesas e internacionais através de "one Dentsu".
Ela vai descobrir que a cultura da Dentsu é "muito, muito diferente" da cultura de empresas americanas como a DDB e a Coca-Cola, no ponto de vista de Simon Francis, que já trabalhou no Aegis Group. "? um modelo de negócios fundamentalmente diferente. O foco s?o os canais, dados, e dinheiro em vez de marca e criatividade" - pelo menos n?o do jeito que está organizado atualmente. "Ela será desafiada em todas as suas habilidades de transforma??o", ele prevê.
Tim Andree tentou otimizar a DAN, organizando o grupo em cinco linhas de negócios há um ano e depois reduzindo-as para três - Criativa, CRM e Mídia - em dezembro. A Merkle é cada vez mais fundamental para os planos do grupo e a Dentsu comprou participa??es minoritárias em abril.
"Eles têm ótimos ativos e a aquisi??o da Merkle parece cada vez mais ter sido uma ótima jogada", disse Paul Richards, analista de mídia de longa data de Londres e diretor executivo da Dowgate Capital.
Colocar em ordem suas aquisi??es n?o é um problema somente para a Dentsu Aegis Network, acredita Richards, refor?ando que outros grupos também fizeram muitas aquisi??es ao longo da última década.
Ao pensar sobre o futuro, ele alerta: "Todas as holdings est?o preparadas para uma queda sem precedentes nas receitas". O adiamento das Olimpíadas de Tóquio para 2021 em seu país de origem foi um duro golpe para a Dentsu.
Wendy promete trazer muita paix?o e ela precisará disso. "Meu pensamento favorito sobre lideran?a é que 'A Lideran?a é o delicado equilíbrio entre a esperan?a e a realidade'", diz ela. "Sim, a realidade está nos assustando, porém n?o podemos perder a esperan?a nessa equa??o. Vamos seguir em frente em dire??o a um futuro que parecerá diferente, mas haverá um futuro."
Em suas próprias palavras

O que a Wendy traz para a Dentsu Aegis Network
"Criatividade é o que posso somar a essas capacidades que já existem".
O papel das agências
"Devemos sempre lembrar que estamos no setor de servi?os. Nosso negócio cresce e podemos contar que nosso crescimento acontece quando o negócio do nosso cliente cresce e eu nunca me esque?o disso".
O que ela aprendeu na DDB
"Realmente, tudo se baseia nas pessoas, na sua cren?a naquilo que est?o fazendo, na sua cren?a no que é possível, e na sua cren?a na magia que podemos criar".
Como desbloquear a criatividade
"O melhor trabalho criativo de uma rede de agências, creio, surge de um relacionamento de confian?a [com um cliente]. Existe uma correla??o direta. Quando a confian?a existe, vocês se aprofundam, se entendem mais, entendem o negócio melhor, vocês chegam àqueles cernes que s?o o combustível para um trabalho incrível. Isso desbloqueia. Depois, vocês podem se dar os bra?os e corajosamente pular juntos".
Como impulsionar a integra??o
"Isso exige muito trabalho duro e, honestamente, trabalho duro n?o é algo do qual eu tenho medo".
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