diversity

Ainda assim, se algumas pessoas escutarem e entenderem, já terá valido

No último ano, como diretora-geral da agência, fui agraciada com o interesse pela minha opini?o a respeito de diversos temas, mas, principalmente, sobre lideran?a feminina. Tornaram-se recorrentes perguntas como: O que as mulheres trazem de diferencial para o universo dos negócios? Qual a diferen?a entre liderar uma empresa sendo mulher? E outras quest?es afins.

Isso me fez refletir sobre o quanto o machismo estrutural é dominante e invisível até mesmo para nós, mulheres. Ninguém pergunta a um homem o que ele traz de diferencial para uma mesa de negócios por ser homem. Ou se negociar com homens é mais fácil, ou como é liderar uma empresa.

A curiosidade das pessoas está mais relacionada à raridade da minha posi??o do que à minha vis?o como uma lideran?a de um negócio. Virei pauta por ser mulher.

Mas isso n?o me desencorajou e me fez perceber que n?o devo desperdi?ar esse privilégio, n?o pelo meu gênero, mas pelo esfor?o, para demonstrar a cada oportunidade como esse viés de percep??o precisa ter fim. O que só acontecerá quando n?o for t?o rara e notável a presen?a de mulheres em posi??es ocupadas predominantemente por homens.

O que trago de diferencial na lideran?a é o que sou como profissional. ? minha história de sucessos, fracassos e aprendizados. Minha competência, meu comprometimento, minha vis?o do mercado e a maneira como posso atuar nele de forma construtiva e transformadora. S?o as rela??es que construí nessa jornada.

A discuss?o fica muito séria, porque n?o é apenas sobre ser mulher. Ela se desdobra em outras complexidades que desvendam a face mal dissimulada do sexismo, do racismo, da homofobia, do preconceito de classe social, do preconceito contra m?es-solo, contra pessoas acima dos 50 anos.

Apesar de tudo, o mundo de hoje é um mundo melhor. A maneira como a comunica??o se transformou com a hiperconex?o e as redes sociais ligou um estridente alto-falante, que amplifica as vozes de cada pessoa prejudicada por ser mulher, por ser gay, por ser negra etc. e torna cada vez mais difícil ou impossível ignorar suas reivindica??es. O que é uníssono em todos os clamores é o direto à igualdade de condi??es, que é um direito humano. Ponto.

A natureza dos ecossistemas é o equilíbrio. Ainda que o equilíbrio ecológico tenha um caráter din?mico, uma vez que é submetido às rela??es constantes entre os seres vivos, sua destrui??o causa a extin??o de espécies e coloca em risco o desenvolvimento pleno das pessoas e da sociedade. ? o equilíbrio que devemos perseguir e proteger, como condi??o de garantirmos um mundo e um mercado melhor para as gera??es futuras.

A beleza ir?nica desse dilema é que o acesso aos menos privilegiados só pode ser dado por quem já o tem. Admitir nossos vieses é o primeiro passo da mudan?a. Nós nos entendermos machistas, racistas, homofóbicos, preconceituosos em rela??o ao que nos é oposto ou distinto, e nos sentirmos incomodados, é o que nos tornará, de fato, agentes efetivos na busca pela erradica??o dos preconceitos e o atingimento do equilíbrio necessário.

? urgente que trabalhemos agora nas empresas, em todos os níveis, na inclus?o de toda uma gera??o por for?a de programas estruturados e de políticas corporativas apoiadas pelas lideran?as, e n?o apenas pela nossa boa-vontade, e muito menos para atrair aten??o e pauta. Precisamos criar nossos homens prontos para compreender as mulheres legitimamente como iguais. ? esse mundo que eu desejo. Um mundo em que nenhuma mulher precise responder qualquer pergunta que n?o seria feita a um homem na mesma posi??o.

Por conta dessa franqueza, talvez essa seja minha última pauta. Ainda assim, se algumas pessoas escutarem e entenderem, já terá valido.